sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Perdoa?

Coração,

Sei que várias vezes enviei-te conselhos ofensivos; disse a ti tamanha raiva que nutria por você e que se eu pudesse te mandava embora. Praguejei toda a minha vida, contra ti; desejei-te todo o mal e até tua própria morte, mas a vida gira e nos faz inverter os valores. Por isso, coração, aqui estou eu: com orgulho pela goela abaixo, arrependimento pulsando na veia para pedir-te perdão.
Aprendi, meu caro amigo, que não tens culpa das expectativas que carrega contigo, percebi até, que tens certa aversão a elas. Agora, eu vejo que se pudesse expulsava todas elas de tua casa, mas não te deram poder suficiente. Entendi que criá-las não depende de tua vontade, é involuntário e machuca mais a ti do que a mim.
Foi inevitável também não enxergar que não presenteias alguém com maior valor por escolha própria, que isso independe de tua opinião. Às vezes discorda, mas tua voz é tão baixinha que não tens como protestar; acabas, sem querer, valorizando a que não merece tua pureza e mesmo quando tal ser cruel pisa-te e machuca-te não tem forças suficiente para mandá-lo embora de tua morada: és fraco, pobre coração.
Tua memória também não se alia a teus desejos: lembra-te o tempo inteiro do que queres esquecer. Eu sei, caro amigo, não relembras do que te faz mal por querer: é involuntário, forçado e desce-te rasgando, amargo. Visita a tua cabeça pessoas que mal demais te fizeram e o rancor te impreguina, mesmo sem quereres. Sei, companheiro, sei que queres te limpar, te livrar de tudo isso que te trai, mas não tem força para isso e nem poder.
E alegra-te: não só eu reconheci que errei, mas a razão também. Assim como eu, ela entendeu que és inocente e que existem forças maiores que ela, ocultas, a quem tu deves maior obediência, mesmo a contra gosto. Conversamos e resolvemos fazer as pazes contigo, não mereces isso; não és digno de tamanho ódio.
Perdoa-me, querido. Entende que sei demais das coisas frias e entendo pouco desse quente do amor. Enxergue em mim, a partir de agora, alguém com quem contar; saibas que saberei, de hoje em diante, escutar-te, analisar teus motivos e compreender-te: serei devota amiga tua. Não te mate pouco a pouco, ainda tens muito a viver, a sofrer. Ah, pobre coração, ainda tens tanto a enfrentar.
Cuida-te. Não tome sereno, podes pegar uma pneomonia e, quem sabe, não resista a tal frieza. Não fale com estranhos, é perigoso entregar-se a tal aventura; procura enxergar quem bem te quer de verdade. Mas não te forces a nada, pois é tão fraco, que tem força o suficiente para suportar. Não exagere no álcool, pode embriagar-te de amor e tornar-se alcoólatra. E atenta ao volante, cuidado para não acelerar demais e acidentar-te outras vezes. Cá estou eu, novamente, a falar demais. Quer saber? Não escute nada que te disse, são apenas coisas bobas de quem aprendeu a zelar. Entrega-te a liberdade que amor não é realmente coisa para teu bico: é pouco, muito pouco.

Asas da ilusão - Flávio José
"Ah, esse meu coração, de novo
Sabe Deus onde me levará
Apostando tudo nesse amor, pôs a mão no fogo e se queimou
E hoje, sem um pingo de vergonha quer voltar
Ah, esse meu coração menino,
Não se conforma em te perder
Vive num banzo de fazer dó
Mesmo sabendo que amou só
Morre de saudades e de ciúmes de você
Vai, coração, te entrega todo
Toda paixão só tem gosto se sangrar
Arrisca tudo outra vez, tenta de novo
Nas asas da ilusão volta a voar"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"És uma mistura de obediência e amor"

Ela era mentirosa. Mas não mentia por mal, jamais o faria para prejudicar alguém. Mariana era leonina- precisava de atenção, ser admirada. Por isso mentia. Quando pequena era menina tímida, recatada, se deixava controlar. Mas ao crescer o instinto leonino apresentou-se nela. Havia cansado de uma infância subordinada. Não ganhara nada com isso, além de bochechas vermelhas. Ela procurava todos os dias quando isso havia começado, talvez na quinta ou sexta serie, quando arrumara um namoradinho e não queria que as amigas tomassem conhecimento. Mariana gostava de novidades, de agito; mas tempos ou outros sua vida parava e ela buscava a todo custo fugir do tédio, vivia em pé-de-guerra com o tal. Sempre que suas amigas estavam festivas demais ela inventava algo, ou então, tomava emprestada para si algumas histórias. Mas não era por mal. As suas mentiras não machuvam ninguém além dela mesma; não difamavam e nem criavam boatos, apenas a engrandeciam, faziam dela um projeto de vida irrealizado. Doía que alguém não lhe aceitasse, era insuportável ser ignorada e achava que o que ela era não seria capaz de tal. Ah, como aquilo a torturava, esfregava na cara da ingênua menina que ela não era capaz de encantar alguém, que aquela por quem as pessoas se apaixonavam não era Mariana. Pobre garota. Não sabia reconhecer quanta beleza trazia seu coração, o quanto ela era linda nua, sem aquelas mentiras. Era pura; doce; forte, muito forte; cheia de vontade e de uma coisa sofrida, bonita. Mas ela não sabia reconhecer aquilo, pobre garota, pobre garota.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Te cuidarei sempre

Doce homem- menino, sei que há muito não nos vemos e há tanto quebramos o contato, mas eu ando te observando de longe. Venho vendo o quanto anda sofrendo, e eu queria te dizer: se você deixar, eu cuido de você.
Me dói um bocado imaginar estes teus belos olhos cheios de uma melancolia triste; observar em minha cabeça teu rosto tão bonito carregado de experiências dolorosas; ah, amor, por que teve de aprender tudo tão cedo assim?
Queria poder tomar para mim tuas mágoas e te dar de presente muito do pouco que tenho de bom. Mas há tanto que estamos distantes. As vezes, me pego pensando em como seria se a vida não houvesse brincado tanto com o destino desse nosso amor; se ela tivesse sido um pouco compreensiva e tivesse aceitado ser madrinha da nossa história. Pensei que ela pudesse, talvez, ter ciúmes de você ou que não nos considerasse um belo casal. Ai, vida doida; ai, vida doída. Fico meio boba, rindo só, em apenas pensar em te ter de volta. Nessas horas me parece tão possível reconstruir tudo o que não colocamos em prática e que sonhei por diversas noites.
Me encho de se's e fico me indagando: ele teria vindo se eu tivesse confidenciado? Queria saber como teria sido se eu tivesse te dito o quanto te gostava e queria para mim; se tivesse te confessado, ao pé-do-ouvido, por uma carta qualquer quanto era muito o que eu tinha para te dar e como eu me dedicaria a isto; me pergunto sempre, se eu te dissesse que ainda te quero um bem danado e o quão grande é a disposição que trago para cuidar de ti: será que tu virias?
Mas quer saber? Até passou aquele tempo em que eu te escrevia milhões de poemas, cartas e guardava para mim; que esperei-te bater a porta de minha casa ou que cruzei os dedos para ouvir tua voz do outro lado da linha telefônica. Passou a época em que eu chorava e jurava morte a qualquer outra que tentava te fazer feliz, não imaginas o quanto praguejei para que nenhuma dessas sortudas conseguissem.
Hoje, meu querido, o sentimento que eu trago por ti é tão evoluído que nem me lembro mais dos sofrimentos que você não me causou; que eu não desejo mais teu bem só perto de mim. Agora, eu quero mesmo é que você seja feliz, que uma qualquer, muito especial, saiba dar o melhor dela e roube o seu pior; também não te quero mais só para mim, entendi que você é da vida, é claro que ainda sou capaz de cuidar-te, mas só de longe, de coação, por oração. Peço demais para que tu seja feliz, bem longe de mim, livre. Por esses tempos, só consigo lembrar do que a gente teve de bom; mas espera, a gente teve coisa ruim? Foi tão pouco tempo...
Ah, meu amado, te quero um bem enorme, danado, louco, desesperado; mas é coisa pura, limpa, sincera, escondida. Não se preocupe, eu continuarei a zelar por você, cuidar da tua importância para mim e a mandar-te o tempo inteiro minhas melhores vibrações através do dedilhar de um violão qualquer. Sempre, sempre e sempre.

"E agora longe de mim,
Você possa enfim, ter felicidade
Nem que faça um tempo ruim, não se sinta assim, só pela metade"
(Eu e você semore- Jorge Aragão)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Temporariamente tua

Meu querido, eu acreditava que para equilibrar esse meu jeito de menina-politicamente-correta me faltava um cafajeste. Mesmo tentando convencer, a mim mesma, de que não estava a procurar, cada passo que dei meu coração ansiou em topar com tal. Mas não sabia eu que já estava este do meu lado.
Aham, não me olhe com esta cara de espanto, pois é a você mesmo que me refiro. Está certo que não és o típico cafajeste, tampouco o que descrevi querer para mim, mas é cafajeste. Não tens o rostinho de malandro, não te veste como tal não fala como tal e nem procurar passar que assim o é. Mantém-te sempre assim: com esse teu jeito calado, quieto, discreto; mas escondes no fundo de teu ser um perigoso cafajeste. Fez de conta que eu dominava a relação, deixou com que eu achasse que a insistência de tal “amor” era por afeição, mas vamos jogar limpo – nós dois sabemos que você, caro cafajeste, adora um perigo, é chegado a um desafio, não resiste a uma mulher difícil. Sabemos que não sou algo assim tão precioso a ti, que não passo de um troféu, vez ou outra, difícil de conquistar e cada vez mais fácil de ter nas mãos. Já percebeste que se fazer de desentendido e apaixonado aguça, não só, minha desconfiança, mas também a culpa. Assim como uma criança você entendeu que se chorar um pouquinho, fizer um drama pode conseguir aquilo que quer mais rápido. Que perigoso ,cafajeste querido, está aprendendo a conhecer-me e controlar-me, estás aprendendo a tocar meu coração; é deliciosamente perigoso.
E isso me amedronta um bocado: esse pique - esconde amoroso também agrada ao meu coração meio masoquista, que enxerga uma possibilidade de fim de brincadeira com o placar vantajoso para ti. Acho melhor darmos uma pausa, pararmos um minuto, sentarmos e, devagarzinho, pisar no freio; para que assim eu possa ter, de novo, esse amor em minhas mãos. Não, por favor, não faça assim. Não me deixe esperando por ti, continue previsível, mas não me dê ansiedade de presente, não me falta.
Não te iludas achando que não vi as escapadas que você anda tentando dar e que não acordei quando você, de madrugada, saiu em passos leves para não me acorda despertar de um sono fingidamente profundo. Vejo tudo, meu bom cafajeste, mas não sei porque, ando me fazendo de desentendida. É, acho que infelizmente, você descobriu o jeitinho de pisar meu coração e de me ter perto de você. Mas não se anime, que a chuva vai se embora daqui a pouco e, na minha cidade, o sol do amor-próprio nunca deixa de queimar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nos reencontros da vida - A volta

Já haviam se passado três anos e ela nunca tinha retornado. Só que mais uma vez era forçada a voltar. A angústia tomava conta daquele pequeno coração; o medo e a culpa de ter seguido em frente enchiam o peito de Helena - era hora de olhar para trás.
Ela temia ,mais que qualquer outra coisa na vida, aquele reencontro com Marcos. Temia o que poderia encontrar e como seu coração iria reagir, ele não tinha significado grande coisa, tinha quase certeza disto. Mas o medo insistia em birrar e trazer a dúvida agarrada ao braço.
Tinha tido algumas noticias dele: sabia que ele estava com uma nova namorada, desconfiava que tinha crescido e tinha a certeza de que ainda queria mexer com ele. Bobagem, talvez fosse carência e Maysa Matarazzo tinha contado que 'toda mulher é assim: joga fora, mas não quer que ninguém pegue'. Sentia uma necessidade de tocar aquele coração e um pavor em não conseguir.
A ansiedade, irônica, fez com que o dia da viagem demorasse. Helena se pegava pensando no que aconteceria todos os dias, até que não precisou mais imaginar e o dia de ir chegou. Mil e tantos quilômetros, foi o que sua mente teve para criar infaliveis planos de conquista. Estava tudo ensaiado: o modo como o olharia, como se demonstraria esquecida e como faria para o provocar. Ao mesmo tempo que se recriminava, se encorajava: o coração pedia, implorava para que o fizesse.
A estrada enfrentada sem sono logo acabou e ali estava ela: naquela cidade fria, cheia de segredos e boas lembranças. A batida de seu coração acompanhava seus passos rápidos, seus olhos treinados e ansiosos procuravam por ele: Marcos; aquele par castanho buscava ansiosamente por aqueles outros verdes. Mas nada dele.
Era dia de natal, tudo fazia com que lembrasse dele, mas sua presença não se fazia. Mas que droga, era o coração começando a reagir. O gelo derretendo depois de um longo inverno de desamor.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quieta, coração

Ei, minha doce pequena, chegue cá, junto de mim. Venha, diga-me que mal trazes em teu peito, tão grande que externa em teus olhos. Fale, pequenina, que a vida fez paras arrancar tua alegria? Fala-me para que eu possa acabar com teu sofrer. Ah minha ingênua garota, que conversa feia. Que história é esta que ninguém gosta de ti? Saiba que eu amo-te com todo meu ser, toda minha intensidade e mesmo cheia de defeitos és a coisa mais pura que trago comigo. Não duvides de mim, me ofendes assim.
Encoste aqui em meu colo, chore todas as tuas mágoas, diga tudo o que quer, me fira com o punhal da sinceridade, coloque toda a dor para fora e traga de volta para morar contigo a alegria. Por favor, pequenina, não fique assim.
Não fazes ideia do quão preciosa és, de como é impossível viver sem teu doce sorriso ausente. És necessária a toda gente de teu pequeno mundo, rara flor. Impossível é suportar a ausência tua e tão doce é tua presença. Não deixe se enganar pela amargura do tédio desse
dia-a-dia, por trás dessa frieza há admiração enorme que é obrigada a ocultar-se.
Não se angustie, bela pequena, sozinho todos nós somos; mas nem sempre precisamos assim nos fazer. Deite cá e mande embora toda tua dor, que por enquanto, estarei a acalentar-te.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Não se pede, não se mede e sempre se repete

Não fui esperada, vim de intrometida que sou; mas mesmo assim me receberam de braços abertos. Logo em minha chegada, chorei por toda a madrugada, fiz com que boa parte vocês perdessem o sono; e mesmo com muitas horas pela frente, me acalentaram e me trataram como se eu fosse a coisa mais preciosa deste mundo. Quando achei que pudesse dar meus primeiros passos e caí nunca faltava alguém para socorrer-me e dizer que ' foi só um pulinho', e ao mesmo tempo me deixaram entender que a queda faz parte da vida.
Quando cresci mais um tiquinho e tive vontade de voar, vocês me avisaram que as asas nascem aos pouquinhos e que era para eu ir com calma. Afoita, achei que não era assim, que podia me mandar do ninho e enfrentar o céu. Mas as pequenas asas que tinha não me deixaram levantar voo e o máximo que consegui foi alguns tombos bem feios. Voltei toda encharcada, doída, machucada e vocês não insistiram que tinham me avisado, não fizeram questão de me fazer pagar pelo que eu tinha de pagar, amenizaram a minha dor: colocaram alguns curativos em meu peito e me ninaram.
E mesmo quando eu ainda não enxergava o quão valioso vocês eram, não me mandaram embora, não deixaram que a recíproca fosse verdadeira e ,a meu contra-gosto, continuaram a me cuidar e zelar, me tratando com a tal da princesa da pedra fina*. Quando eu fui capaz de entender o que vocês realmente significam e voltei, novamente, correndo, doida para pedir perdão, me calaram. Mas não exigiram que eu me desculpasse, muito pelo contrário, trataram como se, toda a vida, eu entendesse isto.
Ah, meus verdadeiros amores, à vocês eu não tenho muito a agradecer, tenho tudo. Vocês é que construíram maior parte de mim, é que me feriram e me curaram, é que me ensinaram, me deram carinho, calor e amor. Família, é a vocês que eu devo tudo o que tenho, que sou; é por vocês que eu faço o que faço; é com vocês que eu quero e preciso seguir. Porque amor assim, só de família. E por mais que uma noite ou outra eu esteja fora de casa é vocês que carrego em meu coração. São a única certeza que trago, porque vocês sim: me tem e me pertencem.

*princesa da pedra fina é personagem principal de um estória que minha avó sempre costumou contar e me comparar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Muito obrigada

Sei que este ano, por não ser sua aluna, deixei de aprender muita coisa. Não refiro-me apenas ao mundo mágico da história, mas também tenho consciência do quanto perdi como pessoa. Me faz uma falta enorme as viagens fantásticas que conseguia fazer.
Em cinquenta minutos, ao som de sua aula, fui capaz de visitar feudos; ver a destruição que causaram as revoluções; o quanto Adolf Hitler era convincente; fui capaz de visitar até um outro Brasil.
Ainda guardo comigo cada lição que me deste de presente, caro mestre. Devo agradecer-te por quanto cresci com tuas palavras, por alguns novos valores adquiridos, por uma visão um pouco mais crítica, por ter me tornado menos hipócrita. Agradeço-te pelos banhos de realidade, as doses de ironia, exemplos dados e pelos conselhos diretos e indiretos. Muito obrigada, professor querido.
E o que desejar ao senhor neste dia dos professores? Acho que muita saúde e paciência para aguentar essas criaturas, nada doces, chamadas de aluno. Que o seu dom de dar aula seja sentido por mais pessoas ainda; que estas saibam aproveitar e absorver a sua generosidade de doar conhecimento; que as que te cercam e as que te cercarem saibam valorizar os ensinamentos que passas; que os sonhos que tens ,e que não sei quais são, se realizem. Desejo ao senhor, ídolo, o mundo melhor que sempre buscaste. Parabéns, mestre querido.


P.s Parabéns a todos os professores pela linda profissão que exercem.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

'Ter saudade até que é bom'

Ando te acompanhando de longe, vejo como tem conquistado de pouquinho em pouquinho tudo aquilo que sempre quis. E nessas horas eu sinto um aperto forte no peito, daqueles que te dão vontade de sair correndo e me pergunto: eu atrapalhava teu sucesso?
Ah meu amor tantas vezes fui grossa, dei atenção a coisas sem importância, fingi vê a novela só para não ter de conversar. Eu fui tão egoísta e você sempre tão doce, dando-me todo o carinho que eu não merecia, mas precisava.
Com todo esse amor-doce conseguiste expulsar a fera que habitava em mim e controlava todos os meus falsos atos, mas de quê adiantou? Se fostes embora junto a esta criatura podre que eu me fazia. Ah, meu bem, que será de mim agora? Sem teus mimos, sem o mostro, só comigo?
Foste a criatura mais generosa deste mundo: levaste para longe, contigo, tudo de ruim que eu possuía: cada defeito, cada falha; e me deixaste com um gosto doce na boca. Teve coragem o suficiente para arrancar de mim, à força, todas as mágoas e toma-las para ti. Ah, meu bem-querer, fostes embora sangrando, levando cravado em teu peito o casamento das minhas dores com as tuas; permanecendo forte o suficiente para aguentar. Mas ei, sem querer exigir demais, não me foi compartilhada tal coragem e a fraqueza ainda me tenta - vontade de implorar para que volte é muita. O tempo não passa rápido, o tempo não passa e a necessidade te grita.
Vai, meu amor, sabes que eu preciso-te, muito. Mas coisa boa que me deixas-te também foi saber amenizar esse egoísmo pulsante. Deus, por que não se aprende a valorizar quando ainda se tem? Acredito no teu amor por mim e na tua necessidade de partir, de ficar aonde estás para sempre. E hoje, creio ainda mais no amor meu por ti.


sábado, 9 de outubro de 2010

Resposta à um cara arrependido

Desculpe, só agora pude responder lhe responder, é que anda faltando tempo no meu dia. Isso mesmo,não se impressione, ando cheia do que fazer. Não sei porque, chega ao meu ouvido tua voz grave dizendo: 'só para me esquecer'.
Confesso: você não se enganou. Comecei a fazer tudo que faço hoje para tentar lhe tirar da cabeça, mas isso foi no início. Juro, não é mais um daquelas vezes em que eu tentava lhe impressionar e fazia a mulher-resolvida para que você voltasse, quando na verdade - era eu, sempre eu, que retornava. Ando fazendo tudo o que eu pensava não poder realizar.
Lembra que eu falava da minha enorme vontade de fazer algum trabalho comunitário aos domingos, só que me faltava tempo por causa do "nosso" futebol? Pois é. Agora, não falta mais. Ando enchendo meus novos amorzinhos de carinho. Comecei a dar as aulas que eu tanto queria, e olhe, estou amando. Consegui mais um emprego, cozinhar nem pensar e ando muito dedicada nessa nova faculdade.
E se eu lhe falar sei que você não vai acreditar: perdi minha insegurança. Procurei-a por todos os cantos - debaixo da cama, dentro dos livros, no banheiro, junto as roupas sujas, no guarda-roupa - por toda parte, mas não encontrei. Depois pensei que você deve ter colocado na sua mala e levado-a embora quando saiu de minha vida. Mas não precisa mandar-me de volta - ela não anda fazendo falta, querido.
Talvez, na partilha do nosso amor você tenha ficado também com as ilusões, faz um bom tempo que não sinto o gosto amargo da danada, mas pode ficar com todas elas também: são de presente. A minha ansiedade também preferiu ficar contigo? Faz um bocado de tempo que as borboletas não alugam-me o estômago para dar uma festinha. E o ciúmes? Sinto até uma saudades dele.
Agora, vou-me de vez que o tempo não é dinheiro, mas é precioso e só meu.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Por caridade, coração

Vai, meu amor, pede para esse meu coração pequeno não guardar raiva de você; implora para ele para jogar esse rancor chato fora; pede para ele não querer te desamar e nunca, nunca conseguir fazer isso.
Sacode esse meu músculo pulsante e faz ele lembrar que você é o que eu mais amo nessa vida; lembre ele de que viver sem você me dói demais e viver magoada contigo dói ainda mais.
Vai, enche ele de razão e diz que com amor assim a gente não briga e não se zanga, que a gente só ama, só quer bem.
Mostra, mostra para ele que eu não quero ficar com raiva de você, que ele pode ter vários poços feios e escuros, mas que também tem cantinhos bonitos e aconchegantes para te guardar.
Conta, conta para ele que tortura demais não te amar, que eu preciso sentir esse amor para poder respirar. Suplica para ele, suplica piedade e diz que você tem de continuar dentro de mim, senão, meu bem, eu morro; morro só de não amar você.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

À um ser querido

O contato vem diminuindo cada vez mais; poucos encontros, raros telefonemas, uma ou outra notícia, resultando em um coração apertado: cheio de saudades! Te conheço a cinco anos e desde então você soube de todos os meus passos. Sim, nunca estivemos tão distantes como agora, mas tenha certeza você sabe de tudo que se passa em minha vida; porque querendo ou não eu te conto cada passinho dado a todo instante, por pensamento, por coração! E não se iluda, também sei de tudo o que acontece em sua vida; a tal da sintonia telepática não me deixa desinformada. Ás vezes dá um aperto no peito e eu lembro de ti, entendo que tu não tá bem, que tá acontecendo alguma coisa ruim. Daí, eu tento devolver isso, penso com mais força ainda na nossa amizade e te mando um abraço, uma bronca ou meu silêncio mesmo; mas tento te mandar algo bom, algo nosso! E não pense que só lembro de você nos momentos ruins não, ok?
Outras vezes eu sinto algo bom, meio nostálgico, mas algo bom, lembro de você, e te mando um abraço, um beijo, um tapinha, te faço cócegas e grito junto contigo, em pensamento, mas me sinto feliz por você! Me soa tão clichê falar PARA VOCÊ que pode contar comigo; parece tão pleonasmo e todas as outras figuras de linguagem/erros gramaticais relacionados a repetição te dizer que a distância não é barreira para um colinho, um ombro amigo. Aquela coisa de ciúmes de amigo novo, de se sentir ameaçada acho que não deixou de existir, só se acomodou, aprendeu a se comportar; afinal, me fale, quem não tem medo de perder um lugar privilegiado, hum? É isso aí, descobri que nada que a gente construiu nesses cinco anos de convivência tão próxima e distante se acabou, se desfez ou enfraqueceu; só perdeu a euforia, aprendeu a ser discreto.
E não ache que isso é coisa ruim, aprendi e espero que você também tenha aprendido, que o mais bonito de se sentir é calmo, quieto, tímido, até um pouco caldo ás vezes, cheio de piadinhas internas; quase que invisível aos olhos de quem observa e está de fora, mas fosforescente aos olhos dos protagonistas. Aliais, não preciso que ninguém veja e sinta por mim, acho que sou capaz de tal. Dispenso também agradecimentos, de ambas as partes. Olhe, não é ingratidão, não, meu bem; repito: as coisas entre nós são implícitas, já não se faz necessário um Carnaval inteiro para isso! Não sei quando vou te ver (torço para que logo, logo), mas não há problema; amor, amizade não se faz de presença!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Nos reencontros da vida - A primeira de algumas despedidas

"Disse para ela, naquele silêncio, que a queria, muito; ela o disse que tinha encontrado sua salvação de amor. E os dois disseram ao mesmo tempo que seriam um do outro para sempre, pelo ou menos naquele instante."
Era o último dia de Helena naquela cidade e os dois não sabiam direito o que fazer com o pouco tempo que lhes restavam; sentiam um friozinho na barriga, aquele medo da primeira despedida. O decorrer daqueles instantes colaboraram para isso - o sol brincava de pique esconde, fazia um frio-solidão, as pessoas pareciam mais caladas - tudo cheirava a insegurança. Ao contrário do esperado as horas passaram se arrastando, parecia que o tempo gostava daquele casal, não queria ser pivô de uma falta de comunicação e amor; a tarde apesar de melancólica estava bonita e lá pelas quatro os amantes resolveram aproveitar. Sentaram em um banquinho qualquer de uma praça e jogaram fora toda a conversa e os beijos românticos que poderiam jogar, sem tocar na tal despedida do dia seguinte. Mas Marcos trazia um olhar diferente, não transmitia aquela segurança de sempre, estava com um fundo de medo e confusão; até que meio desajeitado puxou um papel dobrado do bolso e estendeu a mão a prima:
-Toma, eu fiz para você, mas não olha agora não, certo?
A menina meio atordoada pegou o papel e guardou no bolso cheio de curiosidade e euforia para descobrir o que trazia a primeira carta de amor. O sol resolveu ir se deitar e mais uma vez os dois tiveram de voltar para casa.
Como sempre a mesa do jantar estava cheia de gente, barulho de criança e burburinhos por todos os lados: coisas de família. O coração daquela pequena garota estava cheio de ansiedade, pediu licença para um banho e foi trancar-se no banheiro. Puxou afoita aquela folha decorada do bolso, a cada palavra aumentava-lhe mais o sorriso. Palavras de amor, carinho e saudades enchiam-lhe o peito de orgulho e expectativa de um futuro bom. Entrou embaixo do chuveiro sem deixar que a água gelada lavasse as promessas que havia lido, enxugou-se guardando para sempre aquele sonho. Saiu do quarto em passos calmos, exalando felicidade e percebeu que de repente a casa havia esvaziado: alguns tinham saído e a maioria havia se recolhido, mas ele estava ali: esperando por ela.
Pegou-lhe pela mão e levou-lhe a um cantinho mais escondido ainda, beijou-lhe com toda a intensidade e ela sentiu um gosto de amor e dor: ele estava chorando. As lágrimas que fugiam daqueles olhos verde-esperança doíam profundamente em Helena, ela não sabia o que fazer, não conseguia sequer pedir para que ele parasse - era sofrido, mas era lindo o observar sentindo; e sentiu algo estranho, como se aquela falta de atitude significasse indiferença, menos sentimento, falta de reciprocidade. Aquelas lágrimas a torturavam lindamente, até que Marcos tomou a iniciativa de sussurrar alguma coisa doída.
-O que? -a culpa havia roubado toda a atenção da menina.
-Promete que vai voltar. Promete que vai voltar para mim. Promete?
-Shiii.- Helena suplicou que ele parasse enxugando aquelas lágrimas que esperavam uma resposta- Eu volto, eu volto...
-Para mim? -ele precisava daquele complemento.
- Mas que pergunta é essa?
- Eu quero que você saiba que você é muito especial para mim, muito mesmo. Se você voltar e eu tiver com outra pessoa, não tem problema: eu largo, largo só para ficar contigo. Pode ser só um dia, não importa...
Helena não conseguiu falar nada e pela primeira vez tomou a iniciativa de beijar-lhe. Marcos correspondeu com toda vontade, beijou-a do modo mais intenso que pôde e começou a explorar aquele pequeno corpo desconhecido. A menina não o impediu,era diferente dos outros, alguma coisa lhe dizia que ele era confiável, que podia permitir. Marcos sabia respeitar seu limite, soube respeitar na hora em que ela pediu para parar. Ele olhou-a ternamente, beijo-a carinhosamente como de costume:
-Boa noite, princesa. Não esquece de me acordar antes de sair amanhã. A gente tem de se despedir, ?
-Claro.
Helena foi deitar-se e quase não dormiu pensando em tudo que lhe ocorrerá em menos de uma semana. O sonho chegou bem na hora em que ela concluía como mudava fácil de opinião. A noite foi curta e o sol veio logo chamar-lhe a difícil tarefa de despedir-se, mas era hora. Marcos já estava de pé e não houve nada mais que um beijo no rosto e um: 'não me esquece', ao pé-do ouvido.
A viagem de volta foi tranquila, assim que chegou em casa o celular deu noticia de vida - era ele: 'Estou morrendo de saudade, te amo e não me esquece. Beijo'.
Respondeu e continuo a vida.