segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mas eu sabia, sabiá


Sabiá,

Achei que tinha te ouvido cantar. Corri para janela, na doce esperança de matar sufocada essa saudade maldita que eu sinto de você. Mas não era nada, não era ninguém. Talvez tenha sido só impressão, fruto dessa falta que você me faz.
Ah, passarinho, por que fazes assim? Tanto que pedi para que voltasse, sabes que jamais o prenderia. Mas as folhas do meu abacateiro parecem não mais te agradar, eu sei, estão meio amareladas, meio mal tratadas, é que a chuva nunca mais veio, e água com que eu o rego não se faz suficiente.
Essa esperança que eu carregava grudada em mim, anda se desprendendo, penso que talvez eu nem mesmo te vejas mais. Ah, meu querido, por que tem de ser assim? Eu gostava tanto, tanto de ti. E ainda gosto. O bem que te quero é enorme, mas tu não enxergas, pequenino. Não sei por qual motivo, mas ultimamente quando me recordo de ti, imagino um novo olhar de acusação, um pio mais triste, o que a vida fez da gente, meu querido sabiá?
Não quero cobrar-te, somente recordar: lembras que havias prometido, ao final de uma canção, que retornarias? Lembras que me pediu para enxugar as lágrimas de saudades, que nunca deixarias de visitar meu abacateiro? Eu realmente acreditava nisso, costumavas cumprir aquilo que prometias, só que nunca mais viestes cantar para mim.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Teimosia desnecessária


Bati o pé. Falei para quem quisesse ouvir que eu não queria nunca mais sentir teu cheiro, que tinha te colocado para correr, que não tinha mais nem meia conversa, era definitivo: tinha acabado. Te vi uma, duas, três, quatro, dez ou até quinhentas vezes, não me lembro, só sei que nada daquele velho desejo se arrepender, nenhuma pontinha de vontade de voltar atrás, nem mesmo para lembrar direito, estava mesmo acabado.
Mas aí, não sei o que aconteceu. Talvez a chuva tenha lavado meu coração e aquela areia seca e dura que estava em cima tenha se dissolvido, dando lugar para uma terra nova, com aquele cheirinho de molhada. Te olhei pela milésima vez e veio uma coisa diferente, não embrulhou o estômago, nada de suadeira nas mãos ou do peito em ritmo de carnaval, guiado por um desejo louco. Foi algo meio calmo, trazendo pegado a mão vontades quietas, sem nem um alvoroço. Quem sabe por culpa da antiga intimidade, mas não se esqueça, eu prometi PARA MIM MESMA que não voltava e não vou voltar. E se ninguém souber? Eu vou saber. Ah vai, que se dane. Uma vezinha só, não vai ser nada de mais. Combinado?
Ei, que é isso? Por que tá me olhando assim? Não faz isso, pára. Nada de sentimentalismo fingido. Não me olha assim, já disse. Ok, ok, a gente pode sair outra vez, mas não passa disso. Nem sei o que tá me acontecendo. Ora, ora, que mal tem?
O que aconteceu? Nada. Deu só uma vontade repentina (e não planejada) de te ligar. Se eu sinto saudades? Por que saber disso? A gente não tem mais nada, lembra? Sobre aquela velha estória de juntar os trapinhos dos nossos corações? Calma aí, rapaz. Quieta, respira, que eu tô começando a ficar em dúvida. Não custa nada tentar? Ah, custa sim. O quê? Minha (falsa) estabilidade emocional, serve? Certo, certo, a gente tenta. Quem sabe, não é? Êêê  coração vagabundo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Matando as saudades

Clarice era previsível – esse tipo de menina para namorar, que se encontra em cada esquina, e por isso estava com ela há quatro anos. Já Carolina era aquele tipo raro de mulher; de personalidade forte, muito atraente, com aquele ar malicioso de quem não precisa de ninguém, que não se prende: era um fantasma do passado que voltava para fazê-lo suspirar.
Lembrava-se bem do dia em que conhecera Carol, quase cinco anos atrás. No instante em que a olho apaixonou-se. Ela era ainda uma menina, mas nunca havia visto mulher tão linda, e o esforço da conquista foi recompensado; ela se entregava de corpo e alma a tudo que fazia. Pena que em um dia ensolarado confessou-lhe que precisava ir a lugar algum respirar os ares da liberdade e doía só de lembrar aquela falta; o vazio que ela deixara era imenso e a maldita até tinha falado em voltar, mas só agora retornara.
E o encontrava ali com a vida refeita. Encarar aquele olhar era torturador, sentia um desejo enorme de cobrar-lhe, de senti-la, de tê-la uma única vez mais – e assim o fez. Trair? Nunca havia cogitado antes, mas Carol era Carol. Ela armou o bote como uma cobra peçonhenta, mas não possuía veneno algum, havia pingado-lhe apenas algumas gotas poderosas daquela maldita saudade e feito com que ele relembrasse alguns dos momentos que deveriam passar longe de sua memória.
Deus, o que ele tinha feito? Clarice era louca por ele e ele a adorava também; queria casar, queria que ela fosse mãe dos seus filhos e ele trocava um futuro estável por uma lembrança? Era hora de terminar com aquilo, antes que ele enlouquecesse e trocasse toda a segurança que tinha por um maremoto passageiro. Levantou-se e deixo-a ali: nua, deitada de costas para cima, o encarando. E por um breve instante, achou ter visto uma lágrima no canto daquele belo olho, no entanto, ele já havia aprendido a não se levar pelo coração e jamais esqueceria que Carol era Carol, sempre fugiria.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Talvez

Eu não faço ideia de quanto tempo eu prendi essas palavras (eu e a minha terrível mania de não seguir conselhos), por diversas vezes eu peguei o telefone para discar seu número e dei graças a Deus por não ter, não conto as vezes em que eu quis te escrever um Email, uma carta sem remetente ou qualquer coisa do gênero, mas o meu amor parecia-me tão obvio e ridículo que as minhas palavras, teimosas como são, fizeram acontecer sua vontade e ficaram trancafiadas goela abaixo. Só que tudo tem limite, e talvez eu até tenha aprendido isso com você, porque se você não sabe, eu aprendi muito com você, e agora eu não agüento mais, os sentimentos se rebelaram e eu ouvi um boato rouco de que eu tenho que seguir urgentemente os devaneios desse meu coração burro. Não se assuste, mas pelo menos finja que está surpreendido por descobrir que eu tenho um.
Fiquei imaginando por bastante tempo por que diabos teve de dar errado para gente. Trouxe a culpa para dormir diversas vezes comigo, senti um imenso remorso por não ter voltado antes, por não ter correspondido aquele sentimento que
 parecia tão verdadeiro e por não ter tentado não te querer quando te vi tão longe das minhas mãos. Você lembra, eu te falei que não sei perder.
Juro que nada foi por mal, que não premeditei tudo isso. Lutei muito para me livrar desse maldito aperto no peito que eu sinto em ver o meu nome se confundir com o teu, para não deixar cair nenhuma lagrimazinha todas as noites em que eu relembrava minimamente tudo o que a gente passou, eu tentei me controlar, mas você fez o enorme favor de ser tão diferente. E eu tava quase conseguindo, não precisava mais me torturar, nem me matar de ciúmes, nem mais reler aquela bendita carta, mas aí você teve de voltar para estragar tudo, não é?
E sabe outra coisa que eu me pergunto? Se é você que é tão especial quanto me parece, ou se sou eu que sou azarada o bastante e só atraio confusão para minha vida. Sinceramente, eu não devia, mas prefiro ficar com a primeira opção. Você foi tudo aquilo que eu nunca quis, que eu sempre reneguei, tudo de bom que eu precisava e que fui idiota o suficiente para deixar passar.
Não posso negar que você não me causa mais todo aquele efeito, que o coração bate um pouquinho mais devagar quando eu te olho e que eu te xingo quatrocentas vezes ao dia pela sua falta de atitude que tem de existir. No entanto, não posso ser leviana o bastante e deixar de dizer que você ainda mexe comigo (bem mais do que devia), que eu alimento insanamente uma pontinha de esperança de que aconteça uma nova “recaída”, que repito todos os dias para mim uma das suas últimas palavras naquela sala: “o que eu sinto por você sempre vai voltar quando eu te olhar novamente”, me agarro a esse sempre que eu sei que não existe, para me machucar um tico mais, me dizendo que assim vai doer menos e não deixar de acreditar que eu fui especial para você  assim como você foi para mim.
No fundo, eu não quero te esquecer. Quero manter viva dentro de mim essa nossa relação sem sentido que nem existe mais, assim ela até parece meio real.  Me faz um bem estranho ouvir alguma música e te lembrar, te olhar e achar que suas palavras são indiretas, imaginar que você pensa em mim uma veizinha só, que eu ainda provoco um carnavalzinho no seu coração. Mas não se preocupe, eu já até tirei da minha agenda a nossa foto, já me torturei dizendo o que você me diria: que passou, que o sentimento mudou, que é para eu esquecer, já tomei um banho geladíssimo olhando você com outra e percebendo o quanto ela é especial, já fiz muito mais do que eu pensei que faria. Repito-me todos os dias que vai passar, e ando até quase acreditando que está passando.  Talvez o vazio seja mais duro e bem mais difícil, né? Ou eu tenha mentido pela milésima vez para mim mesma e ainda seja louca por você.

domingo, 3 de abril de 2011

Reconciliação

Querido coração,

Logo eu, que te reprimi tanto e por tanto tempo, que há muito acreditava piamente odiar a tão famosa calmaria, que apesar de tudo, achava que era sina e até vontade própria querer toda essa agitação em minha vida amorosa, mas olha que surpresa: até que ando gostando novamente desse sabor adocicada dos relacionamentos estáveis.
Essa coisa de decepções, encrencas e finais, me fizeram, por comodidade e (auto)proteção, alegar que no fundo era daquilo que eu gostava, declarando-te burro e culpado, forcei-me a acreditar naquilo que me era conveniente, parecia doer menos.
Se aconteceu um milagre e agora eu creio em amores que acontecem e duram para sempre? Não, não. Eu ainda defendo aquela mesma estória de que amor não começa com um olhar e sim com a convivência, que cruel como é, também pode o destruir. Também não penso ter achado a pessoa certa, ao contrário: penso estar com a pessoa errada. Mas ei, quem disse que a tal da pessoa errada não pode me fazer bem? É, anda fazendo...
E em meio a toda essa clara confusão, eu percebo que só agora de fato fizemos as pazes, meu amigo. Acabaram-se as mutuas ofensas e acusações, estamos de fato em paz e até vejo como tinhas certa razão. Quem diria, coração, quem diria.                           


p.s Queridos, eu ainda continuo sem internet. Mas prometo que sempre que puder, darei o ar da graça. 
p.s Muitissimo obrigada por esses comentários lindos.
Beijos cheios de carinho e saudades.