sábado, 13 de agosto de 2011

Querido Inimigo,



Assinamos um tratado – cada qual em seu canto -, e pusemos fim àquela Guerra Sentimental de tão curtos anos. No entanto, por medida de segurança, agarrei-me ao orgulho e mantive não só o pé atrás, mas respirei, desde então, um ódio magoado, remoído, forçado. E logo eu, que todas as vezes que ouvia uma velha estória de que agente recebe ajuda de quem não espera, sentia embrulho no estômago, vendo ali o resumo da mentira, só por recordar-me de você.
Sabe o que é, caríssimo? É que na verdade, eu quis me render, colocar fim a essa guerra, que me tirava mais do que eu podia suportar e fiz apenas as formalidades, esquecendo de oficializar tal decisão para mim mesma. A quem enganei? Não há dúvida: fui a única a desconhecer o que realmente ocorria. O que fiz, na verdade, foi apenas me armar mais, me encher de munição, correr desesperadamente atrás de todos os aliados que pudessem existir.
Não é só você, eu também me pergunto sempre, todos os dias, melhor dizendo: por que eu, que tinha os melhores argumentos, toda a munição possível e não deixei escapar nenhum aliado, perdi mais uma vez? Justo para você, que não se moveu, não fez um único esforço, mantendo toda a sua energia. Não possui resposta alguma? Pois eu tenho. Resolvi enxergar o que ofuscava bem a frente dos meus olhos, você se utilizou da arma que eu desprezei, o perdão, foi capaz de perdoar a mim e a você; e o pior, conquistou o único aliado que eu deixei  passar despercebido – eu mesma.
E agora, que eu consegui subir novamente, que consegui reconstruir parte de mim, olho e tenho de suportar que você, a quem eu tanto odeio, foi fundamental para tal reforma. Ah, caro inimigo, não pode imaginar o quanto dói, tortura, corrói, saber que eu me enganei; mas não me enganei com qualquer, me enganei como você. Se essa dor é suportável? Ah, é sim. Essa maldita não se compara com o desespero que eu sinto, sem saber que faço desse orgulho.
Eu queria ainda, ter a mesma pureza daquela criança que você conheceu; desejava profundamente ser capaz de falar-te o que eu penso, de me desfazer dessas mágoas vencidas, dessa raiva fingida e perdoar insanamente, sem lembrar do que eu penso ter acontecido. Mas enquanto eu não consigo, prezado Inimigo, eu fico aqui: me remoendo e te contando muito mais, no meu meio silêncio.


2 comentários:

  1. que belo texto!!

    surpreendida pelo inimigo e pelo perdão.
    há uma força avassaladora no perdão que poucos conhecem.

    bom final de semana,
    beijos.

    ah, e a história do meu pai aconteceu mesmo... já jacaré de óculos...kkkkakkaakka

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  2. Com nobreza se consegue tudo.

    ;)

    Um beijo.

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