Nessa nossa relação nos comportamos como Pequeno Príncipe e
Raposa. Você o tempo inteiro declarando querer ser amigo meu, eu lhe explicando
que era necessário cativar primeiro. Você, curioso como o pequenino, questionou
todo meu mundo. Eu lhe impus regras, arisca como tal bicho esperto, lhe contei
dos ritos imprescindíveis para a dita “cativação” e te olhando desconfiada e
com certo receio fiz minhas as palavras da amiga raposa: “se queres um amigo,
cativa-me”.
Mas nós, como todo plágio, não adquirimos o encanto da
originalidade. Você, diferente do principezinho, esqueceu-se de avisar que
depois de certo tempo eu teria que me contentar apenas com os campos de trigo e
com a sua doce lembrança; não sei se por descuido ou por falha proposital, não
me esclareceu que era do mundo, que partiria a qualquer momento. Eu, não
possuindo esperteza semelhante a da raposa, me esqueci de me lembrar que quando
se deixa cativar correm-se riscos, inclusive o risco de chorar.
E agora estamos assim: você vagando por aí em busca de
respostas que eu talvez pudesse lhe dar. E eu, desarmada, pagando as consequências
de quem se deixa cativar, tendo sempre em mente que melhor do que ter sido
raposa, teria ter sido sua rosa.