Ouvidos
sempre atentos para compensar a pouca visão, dedo indicador sempre a posto, ao
nível da cabeça. Vez em quando, pernas balançando e sempre com a cabeça
fervilhando de ideias. Meus dias, há muito, resumem-se na profana utopia de
mudar o mundo; e devido a isso, tornei-me tagarela de marca maior e chata de
carteirinha.
Olhos revirados e risinhos de canto de boca demonstram sempre o
amor dos colegas: “lá vem ela”. Fazendo-me, ao final de cada dia, refletir
sobre uma possível boca fechada, mas resultando em todas as minhas preces implorando
para que o silêncio nunca me domine.
Passei de
“garota de personalidade forte e opinião polêmica” para “moça metida e inconveniente”.
Se assim o sou, aceito de bom grado. Estereótipos não combinam com minha
indumentária, se “ser do contra” for ser sempre contra aquilo que está
enguiçado, é essa a capa que visto.
E no devaneio
de que com conselhos comodistas irão aquietar minha língua e coração,
aconselham-me todos os dias: “ignore. Ignorar
é o santo remédio. Pra conversa besta a gente não dá atenção”. No entanto,
insistindo na rotina de contrariar aquilo que se perpetua, não acredito que em
boca fechada não entra mosquito; para mim em boca fechada entra barata, rato e
todas essas coisas das quais se tem nojo, deixando a gente podre por dentro. Para
mim, calar não é consentir, é bem mais: é omitir. É mais do que dizer: “eu concordo com você”, é afirmar: “eu apoio você”. Tenho a omissão como
algo tão grave que me conduziria a um coma, a uma meia vida. Não me calo nem
dormindo, que dirá incomodada!